Ezequiel 47:12b – “…o seu fruto servirá de alimento, e a sua folha de remédio”.

Caminhos sustentáveis: setores do agro apostam em práticas amigas do meio ambiente e alavancam economia

Ao alinhar tecnologia com inovação, o agronegócio de Mato Grosso do Sul desponta com práticas que se preocupam socioambientalmente e garantem um futuro promissor para as novas gerações. Adotar condutas mais sustentáveis deixa de ser opção e passa a ser realidade para a conservação.

Por Anderson Viegas, Débora Ricalde, José Câmara, Nadyenka Castro, Rafaela Moreira e Renata Barros, g1 MS

No estado, a expansão agropecuária ocorre em áreas já antropisadas. Essas terras, antes subutilizadas e em processo de degradação, estão sendo recuperadas, se transformando em solos férteis, que possibilitam diversos tipos de cultivos e atividades, do plantio de grãos a florestas de eucaliptos, até a pecuária de alto rendimento.

Além da recuperação de áreas degradadas, diversas outras práticas sustentáveis foram incorporadas ao cotidiano dos produtores como: uso dos sistemas integrados, plantio direto, fixação biológica de nitrogênio e recuperação de nascentes e entre outras.

Nesta reportagem multimídia, você vai ler os seguintes assuntos:

  • Tecnologia proporciona mais sustentabilidade no campo;
  • Entidades ajudam a disseminar conhecimento sustentável no campo;
  • Produção rural remodelada preserva mananciais;
  • Cana que produz alimento e bioenergia;
  • Modernidade nos processos rurais asseguram futuro mais sustentável;
  • Apicultura é prática secular e que tem a sustentabilidade como base;
  • Boi orgânico ajuda a preservar o Pantanal;
  • Comércio volta os olhos para consumo da proteína animal orgânica;
  • A importância da celulose para Mato Grosso do Sul;
  • Reflorestamento e Energia Verde;
  • Integração de culturas é aposta para promover a sustentabilidade no campo;
  • Da exclusividade do boi à sustentabilidade ambiental com a integração de culturas.

Trabalho institucional

O presidente do Sindicato Rural de Campo Grande, Alessandro Oliva Coelho, destaca o trabalho feito pelas entidades representativas do agro para levar conhecimento sobre sustentabilidade ao campo, sendo o elo entre produtores e instituições de pesquisa.

“Oferecemos palestras técnicas, capacitação de mão de obra e apoio técnico, sempre em conjunto com o Senar/MS e outras instituições. Todo o sistema sindical trabalha muito forte nessa área, para levar conhecimento ao campo. É difícil atingir a base, tendo em vista as distâncias e as dificuldades de comunicação, mas temos vários parceiros que promovem também essas iniciativas e difundem esses conhecimentos para que as informações cheguem aos mais profundos recantos do nosso estado”, explica.

Além da parceria na propagação de informações, Alessandro explica que o Sindicato também atua em cooperação com outras entidades para atingir determinados nichos do agro. Ele cita como exemplos o trabalho com Associação Pantaneira de Pecuária Orgânica e Sustentável (ABPO) e com a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP Guariroba).

Outro viés de atuação, conforme Coelho, é a demanda das entidades públicas para viabilizarem pesquisas voltadas ao setor em instituições como a Embrapa, a Fundect e universidades. O presidente do Sindicato Rural lembrou, inclusive, que Mato Grosso do Sul foi um dos pioneiros no uso de sistemas integrados de produção e ainda lidera o ranking nacional, graças aos estudos desenvolvidos pela Embrapa no estado. Veja o infográfico abaixo.

“Uma das principais demandas que temos no setor atualmente é na realização de pesquisas voltadas para o desenvolvimento de insumos biológicos, que possibilitem a redução da aplicação de agroquímicos. Isso é imprescindível, não somente para assegurar uma produção ainda mais sustentável, como para reduzir a dependência brasileira por matérias-primas para a produção desses produtos”.

Produtores de água

Córrego Saltinho, um dos afluentes do córrego Guariroba, na bacia do Guariroba, com as matas cicliares preservadas demonstra o esforço dos produtores de água da região — Foto: Anderson Viegas/G1 MS

Um dos exemplos da sustentabilidade da produção do agro em Mato Grosso do Sul é o trabalho desenvolvido na Bacia do Guariroba, em Campo Grande. O principal curso de água da bacia, o córrego Guariroba é responsável por 45% do abastecimento de água potável da capital sul-mato-grossense.

Em 1995, diante da importância do sistema para o abastecimento da cidade e para assegurar a preservação dos mananciais da bacia, foi criada a Área de Proteção Ambiental (APA) dos Mananciais do Córrego Guariroba, com uma área de 36,2 mil hectares.

A pecuária, desde essa época, era a principal atividade econômica na APA. Entretanto, havia problemas como: acesso do gado às nascentes para a dessedentação, degradação de matas ciliares e processos erosivos.

Em 1996 foi criada a Associação de Recuperação, Conservação e Preservação da Bacia do Guariroba (ARCP), reunindo os produtores rurais da região. Dos 67 que têm propriedades na APA, cerca de 40 participam regularmente das ações da entidade.

Gradativamente os produtores iniciaram um trabalho de recuperação de suas áreas. Em 2009, na busca de alternativas para os problemas decorrentes de processos erosivos e diante da necessidade de recuperação e conservação da bacia foi criado o Programa Manancial Vivo (PMV).

O programa desenvolvido pela prefeitura de Campo Grande em parceria com a Agência Nacional de Águas (ANA) e os produtores, acelerou o trabalho de restauração do potencial hídrico na bacia. Ofereceu ainda a uma parte dos produtores uma remuneração pela conservação, o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA).

Entre as ações implementadas estiveram:

  • Isolamento das áreas de nascentes para evitar a dessedentação do gado;
  • Recuperação de matas ciliares;
  • Instalação de curvas de nível nas áreas de pastagem para evitar o assoreamento e diminuir a velocidade da água da chuva;
  • Recuperação de pastagens degradadas.

Quase 26 anos após a criação da ARCP, o presidente da entidade, Claudinei Menezes Pecois, aponta os resultados obtidos com o trabalho dos produtores e dos parceiros.

Pecois explica que com a contenção e isolamento de áreas e a recuperação de 64 hectares de APPs, várias nascentes que estavam quase secas voltaram a verter água. Com isso e as outras ações desenvolvidas neste período, aumentou o volume e a qualidade da água de toda a bacia.

“Técnicos fizeram medições em toda a bacia e apontaram que na maior parte dela a qualidade da água foi considerada boa e ótima. Além disso, houve um aumento muito grande no volume de água do córrego, mesmo no período de estiagem. Isso possibilitaria, por exemplo, até que a concessionária aumentasse, se houvesse necessidade, a capitação de água do manancial para o abastecimento de Campo Grande”.

Apesar da importância deste trabalho, Claudinei acha que falta ainda um reconhecimento maior, pelo poder público em geral e pela população urbana que é a principal beneficiada pelo esforço e dedicação destes verdadeiros produtores de água de Campo Grande. “Poucos sabem de onde vem a água que consomem. Preservar a água sempre foi motivo de satisfação pra nós. É muito gostoso ouvir que somos ‘produtores de água’. Mas falta esse reconhecimento na prática”, conclui.

Cana: alimento e energia

Mecanização foi um marco na história do setor sucroenergético no caminho para a sustentabilidade — Foto: Atvos/Divulgação

Estudos conduzidos pelos professores Maurício Roberto Cherubin, da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo (Esalq-USP) e Glaucia Mendes Souza, do Instituto de Química da USP, apontaram que a bioenergia derivada da cana-de-açúcar é uma opção sustentável para enfrentar as mudanças climáticas e, ao mesmo tempo, fornece outros serviços ecossistêmicos essenciais e promove o desenvolvimento socioeconômico.

Os resultados foram publicados em janeiro do ano passado pelos pesquisadores em artigo na revista científica Land, com o título “Land Use and Management Effects on Sustainable Sugarcane-Derived Bioenergy”.

O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores paulistas reforça uma percepção prática vivenciada pelo setor em Mato Grosso do Sul. No estado, o segmento agroindustrial é uma das principais atividades econômicas. Vivenciou uma grande expansão há pouco mais de uma década, mas cresceu alicerçado nos pilares da sustentabilidade.

“O setor nos últimos 10 anos está vivendo uma mudança de governança muito grande. Muitas empresas eram familiares. Algumas foram incorporadas a outras. Alguns grupos cresceram e grupos internacionais entraram. Com isso, houve um reforço, uma preocupação ainda maior com aspectos, como o meio ambiente e a área social. Então a sustentabilidade se pratica há muitos anos. Não é uma coisa que veio de agora”, aponta o presidente do Conselho Deliberativo da Associação dos Produtores de Energia de Mato Grosso do Sul (Biosul MS) e diretor-presidente da União Nacional de Bioenergia, Amaury Eduardo Pekelman.

Pekelman cita como ponto de ruptura do setor para esse novo modelo de produção a implementação da mecanização nos processos de plantio e principalmente de colheita da cana, eliminando a necessidade da queima e do corte manual feito por trabalhadores. “Foi uma ruptura muito forte no setor. Em Mato Grosso do Sul é tudo mecanizado e o estado tem a liderança nessa parte”, ressalta.

Fábio Marquesini, gerente agrícola da usina Santa Luzia, do grupo Atvos, em Nova Alvorada do Sul, reforça a quebra de paradigma que a mecanização representou para o setor e acrescenta uma série de práticas sustentáveis adotadas na unidade e pelo setor de modo em geral.

Uma das principais é o manejo racional da palha da cana. O volume deste subproduto varia de 10 a 15 toneladas por hectare cultivado e cerca de 80% fica no campo após a colheita mecanizada para a cobertura vegetal do solo. “Além de ajudar no controle de pragas e doenças, essa palhada me ajuda a combater a erosão, protegendo o solo dos efeitos do clima, como sol, chuva e vento; melhora os atributos do solo, retendo água e induzindo sua infiltração. Então eu só tenho benefício”, diz.

O gerente agrícola da usina comenta que outros produtos que antes eram vistos como resíduos do setor passaram a ser encarados com alternativas economicamente viáveis e ambientalmente sustentáveis para a adubação do solo.

A vinhaça, líquido residual do processamento do etanol, por exemplo, é rica em potássio. “Temos um plano de aplicação da vinhaça – PAV. Fazemos análise do solo em todas as áreas onde vamos aplicar e em cima desses resultados nós vemos se é compatível em receber ou não a fertirrigação com o produto”.

Outro antigo resíduo que se transformou em adubo é a torta de filtro, que é proveniente da filtração do caldo extraído das moendas no filtro rotativo. Fábio comenta que ela tem tanto fósforo, quando potássio, mas que antes de utilizá-la, principalmente no plantio, faz uma complementação com fósforo.

Em um contexto em que o Brasil depende da importação de fertilizantes, a utilização pelo setor sucroenergético de biofertilizantes, produzidos pelas próprias unidades usando o que antes era resíduo, se tornou uma grande vantagem econômica e ambiental.

“Dependendo da minha análise de solo, tem algumas áreas hoje que se eu fizer somente a fertirrigação, eu não preciso fazer mais nada [ em relação a fertilizantes]. Agora tem áreas que eu preciso complementar com ureia, para fazer nitrogênio. Hoje, virou moeda de ouro, tanto a vinhaça quanto a torta aqui na Santa Luzia. Quem produz soja, quem produz milho não tem isso. Nós temos aqui, esse adubo interno”.

Atualmente, dos 60 mil hectares agricultáveis da usina Santa Luzia, cerca de 40%, aproximadamente 22 mil recebem fertirrigação com vinhaça e metade do plantio é feita com a adubação de sua torta de filtro. Toda área de fertirrigação é monitorada constantemente para aplicação no volume adequado de acordo com a necessidade do solo.

Para Amaury Pekelman, o grande desafio do setor é aproveitar tudo o que é gerado e, nesse sentido, avançam os estudos e pesquisas para a produção do etanol de segunda geração (2G), que utiliza como matéria-prima a palha ou bagaço da cana (que já é usado também para a produção de bioeletricidade) e do biogás e biometano, a partir da vinhaça.

“Isso está crescendo muito. Uma montadora, por exemplo, bancou o projeto de biogás de um dos principais grupos do país, para eles contarem como redução das emissões de carbono. Então, estão surgindo negociações muito interessantes. A tendência, em um futuro próximo, é que todos os caminhões de carregamento de cana seja movidos a biogás. Ou seja, vamos produzir o nosso biogás e alimentar nossos veículos, reduzindo desse modo o consumo de combustível fóssil”.

O presidente do Conselho da Biosul MS, entretanto, aponta que a inovação e a pesquisa tem um custo elevado e aposta no Plano Nacional de Biocombustíveis (RenovaBio), com uma ferramenta importante para que o setor e instituições parceiras tenham recursos para esses investimentos.

O Programa prevê em sua essência que se dobre o consumo de biocombustíveis até 2030, sem para isso lançar mão de subsídio nem de imposto.

Das 17 usinas que operam em Mato Grosso do Sul, todas já são certificadas pelo RenovaBio desde o primeiro ano de funcionamento do programa (2019/2020). Esforço que incluiu o setor entre os mais promissores na neutralização de dióxido de carbono.

As usinas aderem voluntariamente ao RenovaBio e por um processo de auditoria monitorado pelo Governo Federal. A partir de um processo rigoroso de avaliação, recebem uma nota de eficiência energético-ambiental. Quanto mais sustentável for o processo de produção de cada unidade, maior será a nota e a conversão em Créditos de Descarbonização (CBIOs).

Na prática, o programa reconhece o valor dos biocombustíveis como promotores de sustentabilidade ambiental, monetiza esse valor através dos CBIO, e faz com que distribuidoras de combustíveis fósseis compensem o índice de poluição dos seus produtos por meio da aquisição obrigatória desses créditos.

Controle biológico

Além de utilizar a tecnologia para desenvolver novos produtos, o setor sucroenergético também investe no controle biológico para enfrentar uma de suas principais pragas, a broca da cana-de-açúcar, reduzindo desse modo o uso de defensivos.

A broca pode causar uma série de danos a cana, como: morte dos perfilho na fase inicial da cultura, reduzir a absorção e transportes de nutrientes e água, provocar enfraquecimento, brotação lateral, infecção por fungos e bactérias, redução do ATR e quebra de produtividade.

O agente biológico usado contra a broca é a vespa Cotesia flavipes. Ela ataca a broca ainda na fase da lagarta e a enfraquece até levá-la a morte.

“Antigamente o pessoal entrava com os copinhos para soltar as vespas no canavial. Hoje, essas vespas já vêm dentro de um copinho que é biodegradável e esse recipiente é colocado em um drone. Esse drone sai com um programa pré estabelecido, que indica o ponto exato para a soltura das vespas”, comenta o gerente agrícola da usina Santa Luzia.

Setor sucroenergético aplica uma série de ações sustentáveis em área agrícola — Foto: Atvos/Divulgação

Ainda na área agrícola, o setor sucroenergético adota uma série de práticas sustentáveis como: plantio em curvas de nível, para a contenção de água, e rotação de cultura com a soja e forrageiras, como a crotalária, para fazer a conservação do solo.

Segundo dados da Biosul MS, considerando as duas últimas safras, a produção de etanol em Mato Grosso do Sul evitou a emissão de 6,2 milhões de toneladas de dióxido de carbono – o principal gás do efeito estufa, na atmosfera.

Apicultura como prática sustentável

Mel é rico em nutrientes. — Foto: g1MS/RenataBarros

A apicultura é uma prática secular no Brasil, que a cada dia movimenta mais a economia, gerando empregos e se tornando a principal fonte de renda para muitas pessoas. Em Mato Grosso do Sul, com seus três biomas – Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, e com sua vocação natural para o agro, a atividade desempenha um papel fundamental, para a preservação dos ecossistemas, sendo considerada uma das práticas mais sutentáveis do segmento.

A espécie mais comum a ser utilizada na apicultura são a das abelhas africanizadas. — Foto: g1MS/RenataBarros

Conforme a Organização Não Governamental (ONG) Ecologia e Ação (Ecoa), as abelhas são fundamentais na polinização de cerca de 30% de todas as plantas que são usadas na alimentação humana.

As abelhas utilizadas na apicultura não se afastam do papel natural delas. Desta forma, a prática torna-se profundamente sustentável e altamente rentável.

“A apicultura preenche todos os três requisitos do tripé da sustentabilidade. É uma atividade economicamente viável, é socialmente justa e ambientalmente correta. É uma atividade que não precisa desmatar para produzir. O apicultor depende da natureza em harmonia para ele produzir, então é a atividade que menos impacta”, detalha o biólogo especialista em abelhas, Marcos Wolf.

Adriano Adames de Souza, 53 anos, é um conceituado apicultor de Mato Grosso do Sul. Há 30 anos trabalha com abelhas e atualmente vê nelas a única fonte de renda da família.

Adriano tem propriedade onde cria abelhas em Campo Grande. — Foto: g1MS/RenataBarros

“Eu sou pioneiro, na minha família não tem ninguém que é apicultor, mas eu me apaixonei pela apicultura há muito tempo. Eu era pecuarista pequeno e todos os anos eu tinha que vender um pouco. Todo ano eu vendia os bezerros e ainda assim, se eu não me apertasse muito, eu tinha que vender uma ou duas vacas para cobrir as coisas”, lembra Adriano.

Foi então que ele conheceu a apicultura e fez uma escolha que mudaria a vida dele para sempre. “Eu me dediquei à apicultura, estudei bastante e tomei a decisão de vender tudo o que eu tinha, o meu gado, vendi tudo e investi na apicultura. Hoje eu sou um produtor de mel conceituado, estou no mercado há muitos anos, não tenho mais gado. Não me arrependo nenhum minuto disso”, afirma.

Desde a década de 1990, Adriano acompanha as mudanças e evoluções da apicultura no estado. “O apelo pela alimentação saudável tem aumentado muito o consumo per capita de mel. Isso na economia repercute como o dinheiro para o apicultor em si, saúde para quem consome e para os pequenos produtores, que produzem pouco mel, também passa a ser a segunda fonte de renda ou muitas vezes a ser a principal”, comenta.

Ele é um dos apicultores assistidos pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar) de Mato Grosso do Sul. De acordo com o coordenador técnico do Sistema Famasul, André Nunes, aproximadamente 300 apicultores recebem assistência técnica do Senar/MS em todo o estado. O número de colmeias registradas no estado junto à Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal Vegetal (Iagro) ultrapassa 28 mil.

Da parceria com as abelhas não é utilizado somente o mel, mas também a cera e outros produtos. “No estado há entre 10 e 12 indústrias que fazem o envase e compra de todo esse mel. Possuímos indústrias que fazem o processamento de cera, isso gera mão de obra também, é comercializado na indústria cosmética”, cita André.

Cera e mel estão entre os produtos produzidos pela empresa de Adriano. — Foto: g1MS/RenataBarros

Criação

Para o cultivo de abelhas, vários fatores devem ser levados em consideração, como a localização e organização das colmeias, o manejo e a oferta de alimentos às abelhas. Com relação a este último, é imprescindível analisar a florada local, conforme orienta o biólogo especialista em abelhas, Marcos Wolf.

“A florada é quando tem um conjunto de plantas florindo ou uma única espécie. Então tem épocas, que seria a nossa primavera, que vai ter uma abundância de flores e a abelha vai guardar o excesso de néctar e transformar em mel e ter um estoque ali, é o momento que a gente colhe”, explica.

É importante o local onde as abelhas são criadas ser afastado e sinalizado para evitar acidentes. — Foto: g1MS/RenataBarros
Em períodos de baixa florada, as abelhas ficam sem muitas opções de plantas para colherem o néctar e transformá-lo em mel para se alimentar. Desta forma, outras formas de alimentação podem ser utilizadas.
A alimentação das abelhas pode ocorrer de forma orgânica ou com uso de aditivos.  — Foto: g1MS/RenataBarros

“Geralmente se utiliza o xarope de açúcar e algum complemento para suprir a parte proteica”, cita o biólogo. Ou então, é fornecido outro tipo de florada às abelhas, como detalha o apicultor Adriano.

“Nós temos aqui na apicultura um ciclo de floração, que é na primavera, que é a floração do Cerrado. Quando termina a floração do Cerrado, eu tenho uma propriedade parceira onde a gente tem abelha, que tem o Cerrado e do lado tem uma plantação de eucalipto. Quando termina a primavera, entra a floração do eucalipto, então eu continuo produzindo mel, só que de uma floração diferente”, relata.

O biólogo Marcos completa que a florada interfere diretamente no mel produzido. “Se a florada muda, a cor, o gosto do mel muda também. Dessa forma, há uma infinidade de combinações que podem ser exploradas de abelhas e floradas na produção do mel”, destaca.

Além dos cuidados com a localização e alimentação das abelhas, a forma em que elas são manejadas requer atenção do apicultor e funcionários.

EPIs são fundamentais para o manejo das abelhas. — Foto: Reprodução/RenataBarros

“Primeiramente ele deve ter os equipamentos de proteção individuais, o fumegador, o macacão, botas, luvas, tem que estar bem protegido. Tem que tomar cuidado também com o local que ele vai criar as abelhas, se não é perto de casas, próximo à criação de animais, para não oferecer risco. Tem que ser um local seguro e o manejo sempre usando o fumegador para as abelhas não ficarem irritadas. Fazendo o manejo correto ele mantém a segurança tanto da colônia, quanto dele e de quem tiver em torno também”, explica Marcos.

Fumegador auxilia no manejo. — Foto: Reprodução/RenataBarros

Retorno gratificante

O apicultor sul-mato-grossense, Adriano Adumes de Souza, ressalta que ao longo dos 30 anos em que atua com abelhas o que prevalece é a gratidão. Atualmente, possui entre 300 e 350 colmeias distribuídas na propriedade que tem e em outras de parceiros. Ele ressalta que a parceria com outros setores é fundamental.

“O pecuarista tem a área legal, a área que ele não pode ocupar, e a gente pode colocar abelhas lá e fazer uma parte da ecologia, contribuindo com a natureza. Hoje é uma cadeia que depende do outro”, opina.

Abelhas têm olfato 100 vezes mais forte que humanos. — Foto: Reprodução/RenataBarros

Após três décadas, o pequeno pecuarista tornou-se um grande apicultor, gerando renda, trabalho e consciência ambiental.

“Eu lembro como se fosse hoje do primeiro balde de 20kg que eu tirei e depois eu lembro do meu primeiro tambor de 200 litros. De lá para cá eu só sei que a coisa vem aumentando a cada ano”, conta com orgulho.

Adriano comercializa o mel produzido pela criação de abelhas que tem. — Foto: Reprodução/RenataBarros

Boi orgânico

Boi orgânico é realidade no Pantanal.  — Foto: Reprodução

A história da pecuária no Pantanal sul-mato-grossense já tem mais de 200 anos. Antes mesmo que a sustentabilidade se transformasse em uma das premissas do agronegócio no estado e no país, já era praticada pelos criadores da região, que adotaram as práticas de manejo do gado às peculiaridades do bioma, conciliando a produção com a preservação ambiental.

Dados de várias instituições apontam o Pantanal como o bioma brasileiro com a maior cobertura natural preservada, 87,5% do território – segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) -que inclui vegetal florestal, campestre e áreas úmidas, sendo que cerca de 90% dessas áreas são privadas, ou seja, são mantidas pelos produtores.

Para atender as oportunidades de um mercado cada vez mais exigente e a própria evolução da atividade, a produção de gado que em algumas propriedades já sustentável no Pantanal, foi aprimorada para a criação do chamado boi orgânico.

A carne orgânica, produzida a partir destes animais, além de ser um produto que engloba muita tecnologia, é um dos tipos de proteína animal mais sustentável. O protocolo de manejo assegura aos criadores uma produção mais consciente com o animal, meio ambiente e consumidores. Além de ser um conceito que ganha cada vez mais adesão.

Em 2021 foram quase 40 mil cabeças de gado abatidas dentro do sistema orgânica no Brasil, o triplo do registrado em 2020, conforme a Associação Brasileira de Proteína Orgânica (ABPO). Em crescente, a Carne Orgânica pantaneira, além de conservar a biodiversidade do bioma, vem ganhando novos mercados, como pesquisadores comentam.

Várias regras devem ser seguidas para que o gado seja considerado orgânico. Para que a proteína seja atestada, o produtor rural deve fazer com que a produção siga o sistema “orgânico” e submeter o processo a uma certificadora, que gerará um selo assegurando a produção orgânica ao consumidor.

Para que o produtor rural “ganhe” o selo, a certificadora inspeciona a propriedade e elenca cerca de 50 tópicos em que a produção deve seguir, desde a forma de manejo do gado às leis trabalhistas entre os funcionários. Os itens foram elencados pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).

 

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